Usinagem: Processos de Remoção de Metal de Precisão na Fabricação de Aço
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Definição e Conceito Básico
Usinagem é um processo de fabricação que envolve a remoção controlada de material de uma peça de trabalho para alcançar dimensões desejadas, acabamento superficial e características geométricas. Representa um método de fabricação subtrativa onde o material em excesso é sistematicamente removido por meio de meios mecânicos, térmicos, elétricos, químicos ou outros para transformar matéria-prima em componentes acabados com geometrias e tolerâncias específicas.
Na ciência dos materiais e engenharia, a usinagem constitui uma técnica crítica de processamento secundário que faz a ponte entre operações primárias de conformação de metais (fundição, forjamento, laminação) e a montagem do produto final. O processo influencia diretamente a funcionalidade do componente por meio de seus efeitos na integridade da superfície, precisão dimensional e modificações microestruturais na superfície usinada.
Dentro do campo mais amplo da metalurgia, a usinagem representa a interface prática entre as propriedades teóricas dos materiais e o desempenho funcional dos componentes. Serve como um elo crítico no paradigma processamento-estrutura-propriedades-desempenho, traduzindo características metalúrgicas em resultados de engenharia tangíveis, ao mesmo tempo em que introduz modificações na superfície que podem alterar significativamente o comportamento local do material.
Natureza Física e Fundamento Teórico
Mecanismo Físico
No nível microscópico, a usinagem envolve interações complexas entre a ferramenta de corte e o material da peça de trabalho. O processo cria deformação plástica severa na zona de cisalhamento à frente da aresta de corte, gerando novas superfícies por meio de mecanismos de fratura controlada. A remoção de material ocorre por meio de uma combinação de deformação elástica-plástica, atrito e processos de fratura na interface ferramenta-peça de trabalho.
A ação de corte produz formação de cavacos característica através de três zonas primárias de deformação: primária (plano de cisalhamento), secundária (interface ferramenta-cavaco) e terciária (interface ferramenta-peça de trabalho). Essas zonas experimentam condições extremas, incluindo taxas de deformação superiores a 10^5 s^-1, temperaturas atingindo 1000°C e pressões acima de 3 GPa, alterando fundamentalmente a microestrutura tanto do cavaco removido quanto da nova superfície criada.
A dinâmica de deslocação desempenha um papel crucial durante a usinagem, com altas densidades de deslocações se desenvolvendo nas zonas de deformação. Essas deslocações interagem com características microestruturais existentes, como limites de grão, precipitados e interfaces de fase, determinando a energia necessária para a remoção de material e influenciando a integridade da superfície resultante.
Modelos Teóricos
O modelo do círculo de Merchant representa a principal estrutura teórica para o corte ortogonal, estabelecendo relações entre forças de corte, geometria da ferramenta e propriedades do material. Este modelo, desenvolvido por Eugene Merchant na década de 1940, fornece uma análise bidimensional do processo de corte, resolvendo forças em componentes e estabelecendo condições de equilíbrio.
A compreensão histórica da usinagem evoluiu de observações empíricas no século 18 para análises científicas no início do século 20. Avanços significativos ocorreram através do trabalho de Taylor (equações de vida útil da ferramenta), Ernst e Merchant (análise do plano de cisalhamento) e Oxley (efeitos da taxa de deformação e temperatura), incorporando progressivamente considerações mais sofisticadas sobre o comportamento do material.
Abordagens teóricas modernas incluem modelagem por elementos finitos (FEM), simulações de dinâmica molecular e modelos constitutivos de materiais como Johnson-Cook. Essas abordagens diferem em seu tratamento da sensibilidade à taxa de deformação, amolecimento térmico e evolução microestrutural, com FEM oferecendo soluções práticas de engenharia enquanto a dinâmica molecular fornece insights sobre mecanismos fundamentais de remoção de material.
Base da Ciência dos Materiais
A resposta da usinagem correlaciona-se diretamente com a estrutura cristalina, com materiais cúbicos de face centrada (FCC) como os aços inoxidáveis austeníticos geralmente apresentando maior ductilidade e endurecimento por trabalho em comparação com materiais cúbicos de corpo centrado (BCC) como os aços ferríticos. Essas diferenças cristalográficas se manifestam na morfologia do cavaco, forças de corte e qualidade da superfície.
A microestrutura influencia significativamente a usinabilidade, com características como tamanho de grão, distribuição de fases e conteúdo de inclusões determinando os mecanismos de formação de cavacos. Aços de grão fino geralmente produzem cavacos contínuos com forças de corte mais altas, mas melhor acabamento superficial, enquanto estruturas de grão grosso podem facilitar a quebra do cavaco, mas produzem qualidade de superfície inferior.
A usinagem se conecta a princípios fundamentais da ciência dos materiais através de conceitos como endurecimento por deformação, amolecimento térmico e sensibilidade à taxa de deformação. A competição entre esses mecanismos determina se um material apresenta características de usinagem favoráveis, com o equilíbrio entre resistência e ductilidade sendo particularmente crítico para alcançar condições de corte ideais.
Expressão Matemática e Métodos de Cálculo
Fórmula de Definição Básica
A energia de corte específica, representando a energia necessária para remover um volume unitário de material, é definida como:
$$e_c = \frac{F_c \cdot v_c}{Q}$$
Onde:
- $e_c$ é a energia de corte específica (J/mm³)
- $F_c$ é a força de corte (N)
- $v_c$ é a velocidade de corte (m/min)
- $Q$ é a taxa de remoção de material (mm³/min)
Fórmulas de Cálculo Relacionadas
A taxa de remoção de material pode ser calculada usando:
$$Q = a_p \cdot f \cdot v_c$$
Onde:
- $a_p$ é a profundidade de corte (mm)
- $f$ é a taxa de avanço (mm/rev)
- $v_c$ é a velocidade de corte (m/min)
A previsão da vida útil da ferramenta segue a equação de Taylor:
$$v_c \cdot T^n = C$$
Onde:
- $v_c$ é a velocidade de corte (m/min)
- $T$ é a vida útil da ferramenta (min)
- $n$ é o expoente de Taylor (dependente do material)
- $C$ é uma constante determinada experimentalmente
Condições e Limitações Aplicáveis
Essas fórmulas assumem condições de corte em estado estacionário sem desgaste significativo da ferramenta ou formação de aresta acumulada. Elas são mais precisas para operações de corte contínuas com configurações rígidas e materiais homogêneos da peça de trabalho.
Os modelos têm limitações quando aplicados a cortes interrompidos, componentes de paredes finas ou materiais com microestruturas altamente heterogêneas. Eles também não levam em conta completamente os efeitos térmicos, interações ferramenta-peça de trabalho ou mudanças microestruturais durante a usinagem.
As suposições subjacentes incluem propriedades uniformes do material em toda a peça de trabalho, desvios negligenciáveis da máquina-ferramenta e condições de atrito constantes na interface ferramenta-cavaco. Desvios dessas condições idealizadas exigem modelos mais complexos que incorporam variáveis adicionais.
Métodos de Medição e Caracterização
Especificações de Teste Padrão
A ISO 3685 estabelece procedimentos para testes de vida útil da ferramenta com ferramentas de torneamento de ponto único, padronizando condições de corte, critérios de falha da ferramenta e métodos de relatório de dados.
A ASTM E384 cobre métodos de teste de microdureza essenciais para avaliar o endurecimento por trabalho em superfícies usinadas e camadas subsuperficiais afetadas pelo processo de corte.
A ISO 4287/4288 padroniza parâmetros e procedimentos de medição de rugosidade superficial, fornecendo métodos consistentes para avaliar a qualidade das superfícies usinadas.
Equipamentos e Princípios de Teste
Dinamômetros medem forças de corte durante operações de usinagem, geralmente usando sensores piezoelétricos para detectar forças em três direções ortogonais. Esses instrumentos fornecem dados em tempo real sobre forças de corte, empuxo e avanço essenciais para a otimização do processo.
Perfilômetros de superfície caracterizam a topografia da superfície usinada usando métodos de contato (estilete) ou não contato (óptico, laser). Esses instrumentos quantificam parâmetros de rugosidade superficial medindo desvios de altura em relação a uma superfície nominal.
Equipamentos de caracterização