X65 vs X70 – Composição, Tratamento Térmico, Propriedades e Aplicações

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Introdução

X65 e X70 são dois aços de tubulação de alta resistência amplamente utilizados, especificados comumente na API 5L e em normas nacionais equivalentes para transmissão de óleo, gás e fluidos. Engenheiros, gerentes de compras e planejadores de fabricação frequentemente equilibram resistência, tenacidade, soldabilidade, proteção contra corrosão e custo ao escolher entre essas classes. Os contextos típicos de decisão incluem dutos de alta pressão de longa distância (onde resistência e tenacidade são fundamentais), linhas de distribuição em terra (onde custo e fabricação são importantes) e ambientes que exigem procedimentos de soldagem específicos ou revestimentos especiais.

A principal distinção técnica entre X65 e X70 reside na sua resistência ao escoamento mínima especificada—X70 é especificado para uma resistência ao escoamento mais alta do que X65—o que influencia as pressões de trabalho permitidas, a otimização da espessura da parede e as escolhas de fabricação/soldabilidade a montante. Como estão intimamente relacionados metalurgicamente, as comparações geralmente se concentram em compensações entre resistência, tenacidade, microligação e fabricabilidade.

1. Normas e Designações

As principais normas e designações comuns para essas classes incluem: - API: API 5L (designações X65, X70 para aços de tubulação) - ASTM/ASME: Frequentemente referenciados através da API 5L; os equivalentes da ASTM não são diretos um-para-um, mas a ASTM A333/A860/A691 se relacionam com serviço de pressão/baixa temperatura - EN: EN 10208, EN 10219 (equivalentes específicos de país ou produto) - JIS: JIS G3454/G3455 (aços de tubulação com diferentes nomes de classe) - GB (China): GB/T 9711 (equivalentes X65, X70 usados em normas de tubulação)

Classificação: Tanto X65 quanto X70 são aços carbono de alta resistência e baixo teor de liga (HSLA) (microligados), destinados à fabricação em tubos; não são aços inoxidáveis nem aços para ferramentas.

2. Composição Química e Estratégia de Liga

As faixas típicas de composição química para aços de tubulação X são controladas pela API e especificações nacionais. As composições exatas variam por usina e norma; a tabela abaixo lista faixas representativas de elementos usados em aços de tubulação X65 e X70. Os valores são representativos e devem ser verificados em certificados de usina e na norma aplicável.

Elemento Faixa típica (wt%) — X65 Faixa típica (wt%) — X70
C (Carbono) 0.04 – 0.18 0.04 – 0.18
Mn (Manganês) 0.70 – 1.60 0.80 – 1.60
Si (Silício) 0.10 – 0.50 0.10 – 0.50
P (Fósforo) ≤ 0.020–0.030 ≤ 0.020–0.030
S (Enxofre) ≤ 0.010–0.015 ≤ 0.010–0.015
Cr (Cromo) traço – 0.10 traço – 0.10
Ni (Níquel) traço – 0.10 traço – 0.10
Mo (Molibdênio) traço – 0.05 traço – 0.05
V (Vanádio) 0.01 – 0.10 (microligação) 0.01 – 0.10 (microligação)
Nb (Nióbio) 0 – 0.06 (microligação) 0 – 0.06 (microligação)
Ti (Titânio) traço – 0.02 traço – 0.02
B (Boro) traço (ppm) traço (ppm)
N (Nitrogênio) controlado, baixo controlado, baixo

Como a liga afeta as propriedades: - O carbono e o manganês controlam principalmente a resistência e a temperabilidade; um maior teor de Mn ajuda na resistência, mas aumenta a temperabilidade e pode afetar a soldabilidade. - Elementos de microligação (Nb, V, Ti) formam precipitados finos que refinam o tamanho do grão e fortalecem por precipitação e fixação de contornos de grão; eles permitem maior resistência com menor teor de carbono. - O silício frequentemente auxilia na desoxidação e pode aumentar ligeiramente a resistência. - Traços de Cr, Ni, Mo são às vezes usados para melhorar a temperabilidade e a tenacidade sem grandes aumentos no carbono.

3. Microestrutura e Resposta ao Tratamento Térmico

Microestruturas e processamento típicos: - Tanto X65 quanto X70 são produzidos usando laminação controlada/processamento termomecânico controlado (TMCP) e resfriamento acelerado para produzir predominantemente microestruturas de ferrita-perlítica, bainítica ou misturada de ferrita/bainita, dependendo da química e do caminho de resfriamento. - Os aços X70 frequentemente utilizam TMCP ligeiramente mais intensivo, cronogramas de resfriamento de rolos mais rigorosos e microligação otimizada para alcançar maior resistência ao escoamento, mantendo a tenacidade.

Resposta ao tratamento térmico: - Normalização (aquecimento acima de Ac3 e resfriamento ao ar) refina o tamanho do grão e produz uma mistura uniforme de ferrita-perlita ou bainita; não é comumente aplicada na produção de tubulações em larga escala devido ao custo. - O tratamento de têmpera e revenimento (Q&T) pode produzir maior resistência e tenacidade, mas é raro para tubulações devido a considerações econômicas e compensações de conformabilidade. - TMCP com resfriamento controlado é a rota industrial: o controle cuidadoso da temperatura de laminação final e da taxa de resfriamento adapta a transformação para ferrita acicular fina ou bainita inferior, melhorando o equilíbrio resistência-tenacidade. - Precipitados de microligação (NbC, VC, TiN) resistem à recuperação/recristalização durante o trabalho a quente, permitindo um tamanho de grão de austenita anterior mais fino após a laminação e, assim, melhorando a tenacidade a uma dada resistência.

4. Propriedades Mecânicas

Propriedades mecânicas representativas (mínimos típicos especificados e faixas comuns). Os valores exatos dependem da norma, espessura da parede e forma do produto.

Propriedade X65 (típico) X70 (típico)
Resistência ao Escoamento Mínima Especificada 65 ksi (≈ 448 MPa) 70 ksi (≈ 483 MPa)
Resistência à Tração Típica (mín–máx) ~485 – 620 MPa ~510 – 690 MPa
Elongação Típica (A%) 20 – 25% (depende da espessura) 18 – 24% (dependente da espessura)
Tenacidade ao Impacto (Charpy V-notch) Especificado para serviço a baixa temperatura; valores típicos excedem os KVs requeridos Geralmente atende aos mesmos requisitos de impacto; pode exigir controle mais rigoroso para garantir a temperatura de transição
Dureza (HRC/HRB/Brinell) Dureza moderada consistente com HSLA Dureza ligeiramente maior para alcançar maior resistência

Interpretação: - X70 é mais forte por especificação e, portanto, permite paredes mais finas ou pressões de trabalho permitidas mais altas para a mesma espessura de parede. - A maior resistência é tipicamente alcançada por microligação e microestrutura refinada, em vez de grandes aumentos no carbono; isso ajuda a manter uma tenacidade aceitável. - A ductilidade (elongação) é frequentemente ligeiramente menor em X70 devido à maior resistência; no entanto, com um cuidadoso TMCP e design de microligação, a ductilidade e tenacidade aceitáveis são mantidas.

5. Soldabilidade

A soldabilidade depende do equivalente de carbono, temperabilidade e níveis de impurezas. Índices úteis incluem:

  • Equivalente de carbono (IIW): $$CE_{IIW} = C + \frac{Mn}{6} + \frac{Cr+Mo+V}{5} + \frac{Ni+Cu}{15}$$

  • Pcm (parâmetro de soldabilidade): $$P_{cm} = C + \frac{Si}{30} + \frac{Mn+Cu}{20} + \frac{Cr+Mo+V}{10} + \frac{Ni}{40} + \frac{Nb}{50} + \frac{Ti}{30} + \frac{B}{1000}$$

Interpretação qualitativa: - Tanto X65 quanto X70 são projetados para soldagem em campo; no entanto, a maior resistência de X70 e possivelmente maior temperabilidade exigem procedimentos de soldagem mais rigorosos (pré-aquecimento, controle de temperatura entre passes, menor aporte de calor ou metais de enchimento adequados) para evitar dureza na ZTA e trincas a frio. - A microligação (Nb, V, Ti) aumenta ligeiramente a temperabilidade e refina a microestrutura; quando presentes em X70, esses elementos podem exigir práticas de soldagem mais conservadoras do que para uma classe de menor resistência sem tais adições. - O risco de trincas induzidas por hidrogênio correlaciona-se com CE/Pcm, nível de hidrogênio difusível e restrição. Para composições dadas, X70 pode exigir controle de hidrogênio mais rigoroso e pré-aquecimento em comparação com X65. - Seleção de consumíveis de soldagem: use consumíveis com níveis de resistência e tenacidade apropriados; estratégias de correspondência ou superposição são comuns em tubulações para garantir o desempenho da junta.

6. Corrosão e Proteção de Superfície

  • X65 e X70 são aços carbono HSLA e não são ligas resistentes à corrosão. A proteção contra corrosão é, portanto, alcançada por revestimentos, forros e proteção catódica, em vez de liga intrínseca.
  • Sistemas de proteção comuns: epóxi fundido (FBE), polietileno de múltiplas camadas (3LPE/3LPP), galvanização (para certas aplicações), tintas e forros internos para meios transportados.
  • As folgas de corrosão e a seleção de revestimentos são fatores determinantes de projeto; aços de maior resistência (X70) podem permitir paredes mais finas, mas podem aumentar a importância de uma proteção externa robusta para evitar corrosão acelerada através da parede.
  • A fórmula PREN aplica-se apenas a ligas inoxidáveis. Para referência: $$\text{PREN} = \text{Cr} + 3.3 \times \text{Mo} + 16 \times \text{N}$$ Este índice não é aplicável a aços de tubulação não inoxidáveis, como X65/X70.

7. Fabricação, Maquinabilidade e Conformabilidade

  • Conformabilidade: X65 é geralmente mais fácil de conformar a frio (dobramento, expansão) do que X70 devido à ductilidade ligeiramente maior em espessuras equivalentes. Para a fabricação de tubos de grande diâmetro, X70 requer controle cuidadoso dos parâmetros de conformação para evitar trincas.
  • Maquinabilidade: Ambas as classes são aços carbono convencionais; a maquinabilidade é moderada. Variantes de maior resistência (X70) podem aumentar o desgaste das ferramentas e exigir ajustes nas taxas de avanço/velocidade.
  • Corte e chanfragem: Placas/tubos de maior resistência podem precisar de preparação de corte/soldagem mais robusta; as tensões induzidas pela conformação e soldagem são maiores para X70.
  • Projeto baseado em deformação: Em aplicações onde se espera grande deformação plástica (por exemplo, enrolamento, esticadores de dobra), classes de menor resistência ou variantes de X70 especialmente qualificadas com capacidade de deformação comprovada podem ser selecionadas.

8. Aplicações Típicas

X65 — Usos Típicos X70 — Usos Típicos
Linhas de transmissão de gás e óleo de média pressão onde a eficiência de custo é importante Linhas de transmissão de alta pressão onde maior pressão de trabalho permitida ou espessura de parede reduzida são necessárias
Linhas de coleta e distribuição com fabricação simples Linhas principais de longa distância onde a otimização de peso/espessura da parede é crítica
Aplicações que favorecem uma fabricação mais fácil e menores restrições de soldagem Projetos que requerem paredes mais finas para atender a metas de peso ou capacidade, sujeitos a controles de soldagem e tenacidade mais rigorosos
Oleodutos em terra e distribuição local Linhas principais offshore e aplicações em águas profundas onde a maior relação resistência/peso é benéfica (com validação apropriada)

Racional de seleção: - Escolha X65 quando a facilidade de fabricação, maior ductilidade e menor custo de material por unidade de comprimento forem priorizados. - Escolha X70 quando maior resistência permitir paredes mais finas e menor massa instalada, desde que os requisitos de qualificação de procedimento de soldagem e tenacidade sejam atendidos.

9. Custo e Disponibilidade

  • Custo: X70 é tipicamente mais caro por tonelada do que X65 devido ao processamento mais rigoroso, maior direcionamento de resistência e potencialmente maior conteúdo de microligação ou controle de processamento. No entanto, o custo por comprimento instalado pode favorecer X70 se reduções na espessura da parede forem realizadas.
  • Disponibilidade: Ambas as classes estão amplamente disponíveis globalmente em tamanhos e revestimentos padrão. A disponibilidade por forma de produto (sem costura, ERW, soldado em espiral) depende das capacidades da usina e das cadeias de suprimento regionais. A aquisição deve confirmar testes de lote térmico e certificados de usina para tenacidade e química.

10. Resumo e Recomendação

Critério X65 X70
Soldabilidade Mais fácil de soldar, menos demandas de pré-aquecimento em muitos casos Exige controle de soldagem mais rigoroso; potencial para maior dureza na ZTA
Equilíbrio Resistência–Tenacidade Bom equilíbrio; ligeiramente mais dúctil Maior resistência; requer processamento cuidadoso para manter a tenacidade
Custo (material) Menor por tonelada; facilidade de fabricação reduz o custo instalado Maior por tonelada; pode reduzir o custo instalado via parede mais fina

Recomendações: - Escolha X65 se você prioriza facilidade de fabricação, ductilidade ligeiramente melhor, procedimentos de soldagem simplificados e menor custo imediato de material—típico para muitos projetos de distribuição ou tubulações em terra. - Escolha X70 se você precisar da maior resistência prática ao escoamento para reduzir a espessura da parede ou atender a restrições de pressão/peso mais altas, e puder implementar os controles de soldagem necessários, verificação de tenacidade e procedimentos de garantia de qualidade.

Nota final: A escolha entre X65 e X70 deve ser orientada por uma avaliação em nível de sistema: pressão de projeto do duto, espessura de parede permitida, capacidades de fabricação e soldagem, requisitos de impacto/tenacidade na temperatura de serviço, estratégia de revestimento e custo do ciclo de vida. Verifique certificados de usina, qualificações de procedimentos de soldagem e registros de testes de materiais específicos do projeto para garantir que a classe selecionada atenda a todos os requisitos de projeto e regulamentares.

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