Martemperação: Um Processo Crítico de Tratamento Térmico para Redução de Distorção

Table Of Content

Table Of Content

Definição e Conceito Básico

Martempering é um processo de tratamento térmico especializado para aço que envolve austenitização seguida de resfriamento a uma temperatura logo acima da temperatura de início da martensita (Ms), mantendo essa temperatura até que esteja uniforme em toda a peça, e depois resfriando lentamente através da faixa de transformação da martensita para minimizar distorções e trincas.

Esse processo representa uma modificação crítica do resfriamento convencional que reduz gradientes térmicos e tensões internas associadas, enquanto ainda alcança a microestrutura martensítica desejada. O martempering ocupa uma posição importante na tecnologia de tratamento térmico, pois preenche a lacuna entre o resfriamento convencional e processos mais complexos como o austempering.

Dentro do campo mais amplo da metalurgia, o martempering exemplifica o controle sofisticado das transformações de fase para alcançar combinações específicas de microestrutura e propriedades mecânicas. Ele demonstra como princípios cinéticos podem ser manipulados para otimizar o desempenho do material enquanto minimiza efeitos colaterais indesejáveis do processamento térmico.

Natureza Física e Fundamento Teórico

Mecanismo Físico

No nível microestrutural, o martempering controla a transformação de austenita cúbica de face centrada (FCC) para martensita tetragonal de corpo centrado (BCT). Essa transformação sem difusão ocorre quando os átomos de carbono ficam presos em posições intersticiais durante a rápida reorganização da rede de FCC para uma estrutura BCC distorcida.

O processo minimiza gradientes térmicos entre a superfície e o núcleo do componente, mantendo uma temperatura logo acima de Ms, permitindo uma distribuição uniforme de temperatura em toda a peça. Essa distribuição uniforme de temperatura garante que a formação de martensita ocorra de maneira mais uniforme em todo o componente durante a fase de resfriamento lento subsequente.

Os gradientes térmicos reduzidos minimizam tensões internas que normalmente causam distorções e trincas em peças resfriadas convencionalmente. A transformação martensítica ainda ocorre, mas de uma maneira mais controlada que equilibra o desenvolvimento da dureza com a estabilidade dimensional.

Modelos Teóricos

O principal modelo teórico que descreve o martempering é baseado em diagramas de tempo-temperatura-transformação (TTT), que mapeiam a cinética da decomposição da austenita. Esses diagramas ilustram como os caminhos de martempering evitam deliberadamente o nariz da curva TTT para prevenir a formação de perlita ou bainita.

Historicamente, a compreensão do martempering evoluiu a partir dos primeiros trabalhos de Edgar C. Bain nas décadas de 1920 e 1930, que estudou os mecanismos de transformação da austenita. O processo foi desenvolvido ainda mais durante a década de 1940, quando metalurgistas buscaram maneiras de reduzir trincas de resfriamento em aços de alto carbono e ligas.

Abordagens modernas incorporam modelos computacionais que preveem gradientes térmicos e cinéticas de transformação em geometrias complexas. Esses modelos diferem das abordagens clássicas de TTT ao levar em conta condições de resfriamento contínuo e variações espaciais no comportamento de transformação.

Base da Ciência dos Materiais

O martempering relaciona-se diretamente à estrutura cristalina, pois gerencia a transformação de austenita FCC para martensita BCT. O processo minimiza a formação de deslocações induzidas por transformação nas fronteiras dos grãos, que são locais comuns de concentração de tensões durante o resfriamento convencional.

A microestrutura resultante consiste principalmente de martensita com mínima austenita retida, dependendo da composição específica do aço. A martensita formada através desse processo geralmente apresenta uma distribuição mais uniforme em toda a seção transversal em comparação com peças resfriadas convencionalmente.

Esse processo exemplifica o princípio fundamental da ciência dos materiais de que as propriedades mecânicas são determinadas não apenas pela composição, mas também pelo caminho de processamento. O martempering demonstra como o controle das cinéticas de transformação pode resultar em combinações de propriedades superiores que seriam inatingíveis através de rotas de processamento em equilíbrio.

Expressão Matemática e Métodos de Cálculo

Fórmula de Definição Básica

O processo de martempering pode ser caracterizado pela relação entre a temperatura de manutenção ($T_h$) e a temperatura de início da martensita ($M_s$):

$$T_h = M_s + \Delta T$$

Onde $T_h$ é a temperatura de manutenção em °C, $M_s$ é a temperatura de início da martensita em °C, e $\Delta T$ é o desvio de temperatura (tipicamente 20-40°C).

Fórmulas de Cálculo Relacionadas

A temperatura de início da martensita pode ser estimada para muitos aços usando a fórmula de Andrews:

$$M_s (°C) = 539 - 423(\%C) - 30.4(\%Mn) - 17.7(\%Ni) - 12.1(\%Cr) - 7.5(\%Mo)$$

Onde as porcentagens representam a porcentagem em peso dos respectivos elementos de liga.

A fração volumétrica de martensita formada ($f_m$) durante o resfriamento pode ser estimada usando a equação de Koistinen-Marburger:

$$f_m = 1 - \exp[-0.011(M_s - T)]$$

Onde $T$ é a temperatura atual em °C abaixo de $M_s$.

Condições Aplicáveis e Limitações

Essas fórmulas são geralmente válidas para aços de baixa a média liga com teor de carbono entre 0,3% e 1,0%. Para aços altamente ligados, a determinação empírica de $M_s$ é recomendada, pois as fórmulas de previsão tornam-se menos precisas.

A equação de Koistinen-Marburger assume taxas de resfriamento uniformes e composição homogênea da austenita. Desvios ocorrem em casos de segregação, deformação anterior ou taxas de resfriamento extremamente rápidas.

Esses modelos assumem a austenitização completa antes do resfriamento e não levam em conta efeitos de transformação parcial ou dissolução de carbonetos que podem ocorrer na prática.

Métodos de Medição e Caracterização

Especificações de Teste Padrão

ASTM A1033: Prática Padrão para Medição Quantitativa e Relato de Transformações de Fase de Aço Hipoeutetóide e Baixa Liga - Cobre métodos para determinar temperaturas de transformação e cinéticas.

ISO 643: Aços - Determinação Micrográfica do Tamanho Aparente do Grão - Fornece métodos para avaliar o tamanho do grão da austenita anterior, que influencia a eficácia do martempering.

ASTM E18: Métodos de Teste Padrão para Dureza Rockwell de Materiais Metálicos - Comumente usado para avaliar perfis de dureza após o martempering.

ASTM E384: Método de Teste Padrão para Dureza de Microindentação de Materiais - Usado para mapeamento de microdureza em seções martemperadas.

Equipamentos e Princípios de Teste

Dilatômetros medem mudanças dimensionais durante o aquecimento e resfriamento, permitindo a determinação precisa de temperaturas de transformação e cinéticas durante os ciclos de martempering.

Dilatômetros de resfriamento combinam aquecimento/resfriamento controlados com medição dimensional para simular e analisar processos de martempering em condições de laboratório.

A microscopia eletrônica de varredura (SEM) com capacidades de difração de retroespalhamento de elétrons (EBSD) permite a caracterização detalhada de microestruturas martensíticas e quantificação de austenita residual.

Requisitos de Amostra

Especimens metalográficos padrão geralmente medem 10-30mm de diâmetro ou seção transversal quadrada com superfícies planas cuidadosamente preparadas.

A preparação da superfície requer moagem através de tamanhos de grão sucessivos, seguida de polimento até um acabamento espelhado (tipicamente 1μm ou mais fino), seguido de ataque apropriado para revelar a microestrutura.

As amostras devem ser representativas do material em massa e devem capturar quaisquer gradientes na microestrutura que possam existir na seção transversal do componente.

Parâmetros de Teste

A análise térmica é tipicamente conduzida a partir da temperatura ambiente até aproximadamente 50°C acima da temperatura de austen

Voltar para o blog

Deixe um comentário