Temper: Processo de Tratamento Térmico para Otimização das Propriedades do Aço
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Definição e Conceito Básico
Temperar refere-se ao reaquecimento controlado do aço endurecido a uma temperatura abaixo de seu ponto crítico, seguido de resfriamento controlado, para alcançar propriedades mecânicas específicas. Este processo de tratamento térmico reduz a dureza e a fragilidade impartidas durante o resfriamento, enquanto aumenta a tenacidade e a ductilidade a níveis desejados. O temperamento é essencial para equilibrar as propriedades mecânicas em componentes de aço, uma vez que o aço totalmente endurecido é tipicamente muito frágil para a maioria das aplicações práticas.
Em termos metalúrgicos, o temperamento representa uma etapa crítica na sequência geral de tratamento térmico que inclui austenitização, resfriamento e temperamento. Ele ocupa uma posição central na metalurgia, pois permite que os engenheiros ajustem as propriedades mecânicas do aço, criando materiais com combinações otimizadas de resistência, dureza e tenacidade para aplicações específicas.
Natureza Física e Fundamento Teórico
Mecanismo Físico
No nível microestrutural, o temperamento envolve a decomposição da martensita, uma solução sólida supersaturada de carbono em ferro com uma estrutura tetragonal centrada no corpo. Durante o temperamento, os átomos de carbono se difundem para fora da rede distorcida da martensita, formando precipitados de carboneto. Essa difusão reduz tensões internas e distorção da rede na estrutura da martensita.
O processo ocorre em estágios distintos à medida que a temperatura aumenta: segregação de átomos de carbono para defeitos da rede (25-100°C), precipitação de carbonetos de transição (100-200°C), transformação de austenita retida (200-300°C) e formação e crescimento de cementita (250-700°C). Essas mudanças microestruturais modificam progressivamente as propriedades mecânicas do aço.
Modelos Teóricos
O parâmetro Hollomon-Jaffe (HJP) representa o principal modelo teórico usado para descrever os efeitos do temperamento, correlacionando tempo e temperatura:
$P = T(C + \log t)$
Onde T é a temperatura (K), t é o tempo (horas) e C é uma constante dependente do material (tipicamente 20 para aços). Este parâmetro permite prever condições equivalentes de temperamento em diferentes combinações de tempo-temperatura.
A compreensão histórica do temperamento evoluiu do conhecimento empírico artesanal para a compreensão científica no início do século 20. Trabalhos iniciais de Bain e Davenport na década de 1930 estabeleceram os estágios fundamentais do temperamento por meio de estudos de difração de raios X.
Abordagens modernas incluem modelos cinéticos baseados em energia de ativação para difusão de carbono e modelos de cinética de precipitação que incorporam teorias de nucleação e crescimento para a formação de carbonetos.
Base da Ciência dos Materiais
O temperamento afeta diretamente a estrutura cristalina ao permitir que os átomos de carbono se difundam da martensita supersaturada para formar precipitados de carboneto. Isso reduz a tetragonalidade da rede da martensita, aproximando-se de uma estrutura cúbica centrada no corpo.
Os limites de grão servem como locais preferenciais para a precipitação de carbonetos durante o temperamento. A distribuição e morfologia desses precipitados influenciam significativamente as propriedades mecânicas, com carbonetos finos e uniformemente distribuídos geralmente proporcionando tenacidade ideal.
O processo segue princípios fundamentais da ciência dos materiais de difusão, precipitação e transformação de fase. A força motriz para essas transformações é a redução da energia livre de Gibbs à medida que a estrutura metastável da martensita se transforma em configurações mais estáveis.
Expressão Matemática e Métodos de Cálculo
Fórmula de Definição Básica
O parâmetro de temperamento Hollomon-Jaffe é definido como:
$P = T(C + \log t) \times 10^{-3}$
Onde:
- $P$ = parâmetro de temperamento
- $T$ = temperatura absoluta (K)
- $C$ = constante do material (tipicamente 15-20 para aços)
- $t$ = tempo (horas)
Fórmulas de Cálculo Relacionadas
A relação entre dureza e parâmetro de temperamento pode ser expressa como:
$HRC = A - B \log(P)$
Onde:
- $HRC$ = dureza na escala Rockwell C
- $A$ e $B$ = constantes específicas do material
- $P$ = parâmetro de temperamento
Para estimar a resistência à tração a partir da dureza após o temperamento:
$UTS (MPa) \approx 3.45 \times HV$
Onde $HV$ é o número de dureza Vickers.
Condições Aplicáveis e Limitações
Essas fórmulas são geralmente válidas para aços de baixo teor de liga e carbono convencionais com teor de carbono entre 0,3-0,6%. O parâmetro Hollomon-Jaffe torna-se menos preciso para aços altamente ligados, particularmente aqueles que contêm elementos formadores de carboneto fortes, como vanádio ou molibdênio.
Os modelos assumem microestrutura inicial uniforme (totalmente martensítica) e distribuição de temperatura homogênea durante o temperamento. Desvios significativos ocorrem quando aplicados a estruturas parcialmente martensíticas ou ao temperar componentes muito grandes com gradientes térmicos.
Essas relações também assumem temperaturas de temperamento convencionais (150-650°C); elas podem não prever com precisão as propriedades para processos de temperamento a temperaturas muito baixas ou muito altas.
Métodos de Medição e Caracterização
Especificações de Teste Padrão
- ASTM A1033: Prática Padrão para Medição Quantitativa e Relato de Transformações de Fase de Aço Hipoeutetóide e Baixa Liga
- ASTM E18: Métodos de Teste Padrão para Dureza Rockwell de Materiais Metálicos
- ASTM E92: Métodos de Teste Padrão para Dureza Vickers de Materiais Metálicos
- ISO 6508: Materiais metálicos — teste de dureza Rockwell
- ISO 6507: Materiais metálicos — teste de dureza Vickers
Equipamentos e Princípios de Teste
Testadores de dureza (Rockwell, Vickers, Brinell) são os principais equipamentos para avaliar os efeitos do temperamento. Esses dispositivos medem a resistência do material à indentação usando indentadores e cargas padronizadas.
Microscópios metalográficos com capacidades de imagem digital permitem a análise de microestruturas temperadas. O princípio envolve a preparação da amostra por meio de moagem, polimento e ataque químico para revelar características microestruturais.
A caracterização avançada emprega microscopia eletrônica de varredura (SEM) com espectroscopia de raios X por dispersão de energia (EDS) para imagens de alta resolução e análise química de precipitados de carboneto.
Requisitos da Amostra
As amostras de teste de dureza padrão requerem superfícies planas e paralelas com espessura mínima de 10 vezes a profundidade da indentação. O acabamento da superfície deve ser 0,8μm Ra ou melhor para resultados precisos.
Amostras metalográficas requerem preparação cuidadosa, incluindo seccionamento, montagem, moagem (120-1200 grãos), polimento (acabamento de 1μm) e ataque químico (tipicamente solução de nital de 2-5%).
As amostras devem ser representativas do componente sendo avaliado, considerando variações potenciais na taxa de resfriamento durante o resfriamento e gradientes térmicos durante o temperamento.
Parâmetros de Teste
Os testes padrão são realizados à temperatura ambiente (23±5°C) com umidade relativa abaixo de 70%. Para testes a temperaturas elevadas, é necessário equipamento especializado que mantenha precisão de ±3°C.
Os testes de dureza empregam cargas padronizadas (por exemplo, 150kgf para Rockwell C) com tempos de permanência especificados (10-15 segundos) e taxas de carregamento controladas.
Os testes de impacto para aços temperados geralmente utilizam espécimes padrão de entalhe em V de Charpy testados em uma faixa de temperatura para determinar a temperatura de transição.