A2 vs D2 – Composição, Tratamento Térmico, Propriedades e Aplicações

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Introdução

A2 e D2 são dois dos aços para ferramentas de trabalho a frio mais comumente especificados. Engenheiros, gerentes de compras e planejadores de manufatura pesam regularmente as compensações entre resistência ao desgaste, tenacidade, custo e fabricabilidade ao selecionar entre eles — por exemplo, escolhendo entre uma ferramenta que deve resistir ao desgaste abrasivo em longas corridas de produção versus uma que deve sobreviver a impactos e cargas de borda sem lascar.

A principal distinção é que o D2 é otimizado para máxima resistência ao desgaste por meio de uma microestrutura de alto carbono, alto cromo e alto teor de carbonetos, enquanto o A2 é formulado para equilibrar resistência ao desgaste com maior tenacidade e melhor estabilidade dimensional. Esse contraste impulsiona sua comparação frequente em aplicações de matrizes, corte e ferramentas de corte.

1. Normas e Designações

  • Normas comuns e referências cruzadas:
  • A2: AISI/SAE A2, ASTM A681 (especificação de graus de aço para ferramentas), EN 1.2363, JIS SKD11 (frequentemente mapeado de forma diferente entre normas), GB T? (referências regionais variam).
  • D2: AISI/SAE D2, ASTM A681, EN 1.2379, JIS SKD11 (note que a nomenclatura JIS difere), GB T? (referências regionais variam).
  • Classificação:
  • A2: Aço para ferramentas de endurecimento ao ar (aço para ferramentas de liga de alto carbono e cromo-molibdênio); classificado como um aço para ferramentas de trabalho a frio.
  • D2: Aço para matrizes/ferramentas de alto carbono e alto cromo (trabalho a frio, aço para ferramentas de alto desgaste); frequentemente descrito como um aço para ferramentas de alta liga (não inoxidável em serviço prático).

Nota: As normas têm limites químicos e mecânicos específicos — consulte a norma aplicável para especificações de compras e instruções de tratamento térmico.

2. Composição Química e Estratégia de Liga

Elemento A2 típico (faixas nominais)* D2 típico (faixas nominais)*
C (Carbono) 0.9–1.1% 1.4–1.6%
Mn (Manganês) 0.2–0.6% 0.3–0.6%
Si (Silício) 0.2–0.6% 0.2–0.6%
P (Fósforo) ≤0.03% (traço) ≤0.03% (traço)
S (Enxofre) ≤0.03% (traço) ≤0.03% (traço)
Cr (Cromo) 4.0–5.0% 11–13%
Ni (Níquel) ≤0.3% (tipicamente nenhum) ≤0.3% (tipicamente nenhum)
Mo (Molibdênio) ~0.9–1.4% ~0.7–1.5%
V (Vanádio) 0.1–0.3% 0.3–1.0%
Nb/Ti/B/N (traço) Tipicamente nenhum ou traço Tipicamente nenhum ou traço

*As faixas são composições típicas nominais para aços para ferramentas A2 e D2 comerciais; requisitos exatos devem referenciar a norma de compras.

Como a liga influencia o comportamento: - Carbono: O maior teor de carbono no D2 aumenta a fração de carbonetos e a dureza/resistência ao desgaste, mas reduz a tenacidade da matriz e a soldabilidade. O A2 utiliza menor teor de carbono para preservar a martensita mais tenaz/martensita temperada. - Cromo: O alto teor de Cr do D2 forma abundantes carbonetos duros de cromo (tipo M7C3/M23C6), impulsionando a resistência ao desgaste e a estabilidade dimensional, mas reduzindo a resistência à corrosão e a soldabilidade. O Cr moderado do A2 melhora a endurecibilidade e a resistência ao temperamento sem formação excessiva de carbonetos. - Molibdênio e vanádio: Promovem a endurecibilidade e formam carbonetos de liga finos que resistem à deformação; o V, em particular, refina os carbonetos e melhora a resistência ao desgaste no D2. - Elementos menores: Mn e Si influenciam a desoxidação e a endurecibilidade; P e S são mantidos baixos para preservar a tenacidade e a usinabilidade.

3. Microestrutura e Resposta ao Tratamento Térmico

Microestrutura típica: - A2 (após tratamento térmico apropriado): Predominantemente martensita temperada com uma fração de volume relativamente baixa de carbonetos de liga (carbonetos finos de Mo/Cr/V). A tendência de endurecimento ao ar produz uma matriz martensítica uniforme com dispersão moderada de carbonetos. - D2 (após tratamento térmico apropriado): Matriz martensítica densamente povoada com carbonetos de cromo grossos e finos. A matriz pode ser mais quebradiça devido ao maior teor de carbono e redes de carbonetos maiores.

Comportamento do tratamento térmico: - Recozimento/recozimento suave: Ambos os aços são recozidos antes da usinagem para uma maciez que permite a conformação — o A2 recoze para uma ductilidade relativamente maior do que o D2 devido ao menor teor de carbonetos. - Endurecimento (A2): O A2 é de endurecimento ao ar e alcança a tempera total com austenitização cuidadosa e resfriamento ao ar; apresenta bom controle dimensional e menos distorção do que os graus resfriados em água. - Endurecimento (D2): O D2 requer controle preciso da temperatura de austenitização para dissolver os carbonetos adequadamente; o resfriamento geralmente é feito em óleo/ar dependendo do tamanho da peça e do cronograma de tempera. O alto teor de carbonetos do D2 limita a quantidade de carbono disponível para a martensita, mas a martensita restante é muito dura. - Tempera: A tempera troca dureza por tenacidade. O A2 geralmente alcança um melhor compromisso entre tenacidade e dureza após a tempera; o D2 mantém a dureza melhor em temperaturas elevadas devido ao reforço dos carbonetos, mas apresenta menor tenacidade. - Problemas de fragilização por tempera e austenita retida devem ser gerenciados por meio de ciclos de tempera, tratamentos a subzero e tratamentos criogênicos quando necessário.

4. Propriedades Mecânicas

Propriedade A2 (típico, dependente do tratamento térmico) D2 (típico, dependente do tratamento térmico)
Resistência à Tração (aprox.) Moderada–alta (a faixa de serviço varia amplamente; dependente da tempera) Alta (maior na condição endurecida devido à resistência dos carbonetos/matriz)
Resistência ao Esforço (aprox.) Moderada–alta Maior que a do A2 na condição endurecida
Alongamento (%) Maior (melhor ductilidade na condição temperada; por exemplo, vários % em peças temperadas em serviço) Menor (ductilidade reduzida devido aos carbonetos; frequentemente 1–4% em condições de serviço temperadas)
Tenacidade ao Impacto (Charpy V, qualitativa) Significativamente melhor (mais resistente a lascas e fraturas) Menor (mais propenso a falhas quebradiças sob impacto)
Dureza (HRC, faixas típicas em serviço temperado) ~56–62 HRC (dependendo da tempera) ~58–64+ HRC (dureza de superfície mais alta alcançável)

Notas: - Números absolutos são altamente dependentes de cronogramas exatos de tratamento térmico, espessura da seção e tempera. A tabela enfatiza tendências relativas: o D2 alcança maior dureza e resistência ao desgaste; o A2 fornece superior tenacidade e ductilidade para a mesma dureza nominal. - Para o design, considere tanto a dureza da superfície quanto a tenacidade do núcleo — o A2 é frequentemente preferido onde existe risco de impacto/lascamento; o D2 é preferido para desgaste abrasivo.

5. Soldabilidade

A soldabilidade é governada principalmente pelo equivalente de carbono e elementos de liga que promovem a endurecibilidade e a formação de carbonetos. Dois índices empíricos comumente usados são:

Exibir equivalente de carbono (IIW): $$CE_{IIW} = C + \frac{Mn}{6} + \frac{Cr+Mo+V}{5} + \frac{Ni+Cu}{15}$$

E o Pcm do Instituto Internacional de Soldagem: $$P_{cm} = C + \frac{Si}{30} + \frac{Mn+Cu}{20} + \frac{Cr+Mo+V}{10} + \frac{Ni}{40} + \frac{Nb}{50} + \frac{Ti}{30} + \frac{B}{1000}$$

Interpretação qualitativa: - Um maior $CE_{IIW}$ ou $P_{cm}$ indica maior tendência para endurecimento e fissuração por hidrogênio na zona afetada pelo calor, e, portanto, pior soldabilidade sem tratamento térmico prévio/pós-solda. - O A2, com carbono e liga moderados, geralmente solda mais facilmente do que o D2, mas ainda requer pré-aquecimento, controle de temperatura entre passes e tempera pós-solda para ferramentas críticas. - O D2 tem um alto teor de carbono e cromo que eleva consideravelmente o $CE_{IIW}$ e o $P_{cm}$, aumentando o risco de formação de martensita na ZAC, fissuração e fragilização da rede de carbonetos. Soldar D2 é desafiador; a prática comum é evitar soldar ferramentas acabadas, se possível, ou usar metais de enchimento especializados, pré-aquecimento, controle entre passes, tempera pós-solda ou projetar em torno de fixação mecânica.

Recomendações práticas: - Para soldagem de reparo, use processos de baixo hidrogênio, pré-aqueça para temperaturas recomendadas e realize tratamento térmico pós-solda (PWHT) para temperar a martensita e reduzir tensões residuais. Considere métodos alternativos de reparo (soldagem a brasagem, colagem adesiva, reparo mecânico) quando viável.

6. Corrosão e Proteção da Superfície

  • Nem A2 nem D2 devem ser considerados resistentes à corrosão no sentido dos aços inoxidáveis para a maioria dos ambientes de serviço. O teor de cromo do D2 é alto o suficiente para formar carbonetos de cromo, mas não para fornecer passivação confiável em muitos ambientes corrosivos — o cromo está preso em carbonetos, reduzindo a resistência à corrosão da matriz.
  • Métodos comuns de proteção para ambas as ligas: pintura, revestimento em pó, galvanização (níquel, cromo), fosfatização ou revestimentos sacrificial locais. Para ferramentas sujeitas à corrosão onde o comportamento inoxidável é necessário, escolha um aço para ferramentas inoxidável ou aplique revestimentos apropriados.
  • PREN (Número Equivalente de Resistência à Fissuração) é relevante para graus inoxidáveis: $$\text{PREN} = \text{Cr} + 3.3 \times \text{Mo} + 16 \times \text{N}$$ Este índice não é geralmente aplicável ao A2 ou D2 para previsão de corrosão porque suas microestruturas de alto carbono e carbonetos invalidam as suposições por trás do PREN.

7. Fabricação, Usinabilidade e Formabilidade

  • Usinabilidade:
  • Na condição recozida (macia), ambos os aços usinam razoavelmente bem; o D2 na condição recozida é mais difícil de usinar do que o A2 devido ao maior volume de carbonetos.
  • Na condição endurecida, o D2 é consideravelmente mais abrasivo em ferramentas de corte devido aos carbonetos de cromo; a vida útil da ferramenta é mais curta e as taxas de corte devem ser reduzidas. O A2 é mais fácil de afiar e afiar na condição endurecida.
  • Formabilidade/curvabilidade:
  • A conformação a frio ou o estampagem profunda com esses aços é limitada; o A2 fornece ligeiramente melhor tenacidade e desempenho de curvatura do que o D2, mas ambos são usados principalmente para ferramentas em vez de operações de conformação.
  • Acabamento de superfície:
  • O D2 é mais difícil de polir para uma borda/acabamento fino devido aos carbonetos; o A2 atinge um melhor acabamento espelhado mais facilmente.
  • EDM (Usinagem por Descarga Eletro): Ambas as ligas são comumente usinadas por EDM para geometrias complexas; os carbonetos no D2 podem afetar ligeiramente as taxas de desgaste do eletrodo.

8. Aplicações Típicas

A2 – Usos Típicos D2 – Usos Típicos
Punções de uso geral, matrizes para corridas curtas a médias Matrizes de estampagem para longas corridas, matrizes de blanking onde o desgaste domina
Lâminas de corte, ferramentas de acabamento onde a vida útil da borda e a tenacidade são importantes Placas de desgaste, facas de corte que requerem alta resistência à abrasão
Matrizes de conformação a frio onde resistência à deformação e estabilidade dimensional são necessárias Lâminas de corte, ferramentas de extrusão para materiais abrasivos
Brochas, ferramentas de conformação com carga de impacto intermitente Facas industriais de alto desgaste, ferramentas de corte de fundição onde o desgaste > preocupação com fraturas

Justificativa da seleção: - Escolha A2 quando as ferramentas estiverem sujeitas a impacto, choque ou carga intermitente onde há risco de lascar ou fraturar, ou quando a usinagem/polimento a montante for significativo. - Escolha D2 quando o desgaste abrasivo dominar e a maior vida útil da borda possível for necessária, aceitando a necessidade de tratamento térmico cuidadoso e maior risco de falha quebradiça.

9. Custo e Disponibilidade

  • Custo: O D2 é tipicamente mais caro por quilograma do que o A2 devido ao maior teor de liga (notavelmente cromo e vanádio). Os custos de processamento (tratamento térmico, moagem) para o D2 também podem ser mais altos devido ao desgaste abrasivo dos carbonetos.
  • Disponibilidade: Ambas as ligas estão amplamente disponíveis em chapas, barras e blanks de ferramentas pré-endurecidos de grandes fornecedores de aço para ferramentas. Formas e tamanhos de produtos padrão são comumente estocados; tamanhos especiais ou peças tratadas termicamente com especificações rigorosas podem aumentar o tempo de entrega.
  • Dica de compras: Considere o custo total do ciclo de vida (tempo de inatividade para troca de ferramentas, ciclos de reafilamento, sucata) — o custo inicial mais alto do D2 pode ser compensado pela maior vida útil em serviço abrasivo.

10. Resumo e Recomendação

Critério A2 D2
Soldabilidade Melhor (ainda requer cuidado) Pior (alto CE, difícil de soldar)
Equilíbrio entre Resistência e Tenacidade Bom (maior tenacidade a dureza comparável) Alta dureza / resistência ao desgaste, mas menor tenacidade
Custo (típico) Menor Maior

Conclusões: - Escolha A2 se você precisar de um aço para ferramentas equilibrado com boa tenacidade, resistência ao desgaste razoável, melhor usinabilidade em condições recozidas e endurecidas, e tratamento térmico mais fácil — adequado para ferramentas sujeitas a impacto, risco de lascar ou onde acabamento superficial e estabilidade dimensional são prioridades. - Escolha D2 se a máxima resistência ao desgaste e retenção de borda forem os principais requisitos para produção de longas corridas, e você puder aceitar tenacidade reduzida, usinagem/acabamento mais difíceis e protocolos de tratamento térmico e reparo mais rigorosos.

Recomendação final: Especifique a liga que corresponda ao modo de falha dominante de sua aplicação. Se lascar/fraturar limitar a vida útil, priorize A2; se o desgaste abrasivo dominar os ciclos de vida, priorize D2 — e assegure-se de que o tratamento térmico, a fixação e as estratégias de reparo sejam planejadas de acordo.

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