440A vs 440C – Composição, Tratamento Térmico, Propriedades e Aplicações

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Introdução

440A e 440C são dois aços inoxidáveis martensíticos intimamente relacionados, amplamente utilizados onde uma combinação de dureza, resistência ao desgaste e resistência moderada à corrosão é necessária. Engenheiros e equipes de compras comumente ponderam as compensações entre custo, retenção de arestas ou vida útil de desgaste e complexidade de fabricação ao selecionar entre eles — por exemplo, escolhendo entre material de menor custo e mais fácil de processar e um grau de maior carbono com dureza e resistência ao desgaste superiores.

A principal distinção de desempenho entre esses graus decorre de seu diferente teor de carbono e da forma como o carbono interage com o cromo e outros elementos de liga para controlar a endurecibilidade martensítica, a formação de carbonetos e os atributos mecânicos finais. Consequentemente, 440C normalmente atinge maior dureza e resistência ao desgaste em detrimento da tenacidade reduzida e da soldagem/fresagem mais desafiadora em comparação com 440A.

1. Normas e Designações

Esses graus são especificados e referenciados em várias normas nacionais e da indústria. Sistemas de designação comuns nos quais você encontrará esses graus incluem:

  • AISI / ASTM / ASME: frequentemente referenciados pela nomenclatura AISI/UNS (aços inoxidáveis martensíticos).
  • EN (Normas Europeias) / equivalentes ISO: encontrados em listas EN sob designações de aços inoxidáveis martensíticos contendo cromo.
  • JIS (Normas Industriais Japonesas): identificados como SUS440A e SUS440C.
  • GB (normas chinesas) e outras normas nacionais: composições semelhantes aparecem sob nomes de grau locais.

Classificação do material: tanto 440A quanto 440C são aços inoxidáveis martensíticos (comumente usados como aços para rolamentos/ferramentas/facas). Eles não são aços HSLA; são aços inoxidáveis/ferramentas tratáveis termicamente projetados para dureza e resistência ao desgaste, em vez de tenacidade ou conformabilidade excepcionais.

2. Composição Química e Estratégia de Liga

A tabela a seguir lista as faixas de composição típicas para os dois graus em porcentagem de peso. Essas faixas são representativas de especificações comuns (família JIS/EN/AISI) e são destinadas a fins comparativos.

Elemento 440A (faixa típica, %wt) 440C (faixa típica, %wt)
C 0.60 – 0.75 0.95 – 1.20
Mn ≤ 1.00 ≤ 1.00
Si ≤ 1.00 ≤ 1.00
P ≤ 0.04 ≤ 0.04
S ≤ 0.03 ≤ 0.03
Cr 16.0 – 18.0 16.0 – 18.0
Ni ≤ 0.75 ≤ 0.75
Mo ≤ 0.75 (geralmente baixo) ≤ 0.75 (geralmente baixo)
V, Nb, Ti Tipicamente nulo Tipicamente nulo
B, N Traço / não especificado Traço / não especificado

Estratégia de liga e consequências metalúrgicas: - O cromo em ~16–18% fornece características inoxidáveis através de um filme de óxido passivo, enquanto também promove a formação de carbonetos (carbonetos de Cr) que influenciam o comportamento de desgaste. - O carbono é o principal diferenciador: o maior carbono em 440C forma mais e carbonetos mais duros e aumenta a dureza martensítica após o resfriamento, melhorando a resistência ao desgaste e a retenção de arestas. - O manganês e o silício são desoxidantes e elementos de liga menores; o molibdênio, se presente, melhora ligeiramente a endurecibilidade e a resistência à corrosão. - Baixos níveis de Ni, V e outros elementos de microliga geralmente estão ausentes ou são mínimos; o design depende da interação Cr–C para propriedades.

3. Microestrutura e Resposta ao Tratamento Térmico

Comparação de microestrutura: - Ambos os graus desenvolvem uma matriz martensítica após a têmpera, com carbonetos de cromo distribuídos pela matriz. O tamanho do carboneto, a fração de volume e a distribuição são fortemente dependentes do carbono. - 440A (menor carbono): produz menos carbonetos com menor fração de volume de carbonetos; a martensita tende a ser menos saturada com carbono, resultando em menor dureza e tenacidade relativamente melhor. - 440C (maior carbono): proporciona uma maior fração de volume de carbonetos de cromo e um maior teor de carbono na martensita; o resultado é maior dureza e resistência ao desgaste abrasivo, mas menor tenacidade e ductilidade.

Resposta típica ao tratamento térmico: - Recozimento: ambos os graus são recozidos para aliviar tensões e amolecer antes da usinagem. A microestrutura recozida é tipicamente ferrita/pearlita mais carbonetos não dissolvidos; a dureza é baixa o suficiente para usinagem. - Têmpera: resfriamento em óleo ou ar/óleo dependendo do tamanho da seção e das propriedades desejadas. As temperaturas de austenitização são selecionadas para dissolver os carbonetos apropriados sem crescimento excessivo de grão. - Revenimento: o revenimento reduz a fragilidade e ajusta a dureza. Devido ao maior carbono, 440C atinge maior dureza de revenimento a uma determinada temperatura de revenimento, mas pode ser mais suscetível à fragilidade de revenimento e requer seleção cuidadosa do revenimento. - Processamento termo-mecânico: forjamento controlado e tratamento de solução podem refinar a distribuição de carbonetos, melhorando a tenacidade e a resistência ao desgaste; ambos os graus respondem a tais rotas, mas 440C exige controle de processo mais rigoroso para evitar carbonetos grosseiros.

4. Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas dependem fortemente do tratamento térmico. A tabela a seguir resume o comportamento comparativo em vez de números absolutos únicos — é estruturada para ajudar nas decisões de seleção na fabricação e compras.

Propriedade 440A (comportamento típico) 440C (comportamento típico)
Resistência à tração Moderada a alta (dependente da têmpera) Maior (quando totalmente temperado)
Resistência ao escoamento Moderada Maior
Alongamento (ductilidade) Maior (mais dúctil) Menor (ductilidade reduzida)
Tenacidade ao impacto Melhor (maior resistência à fratura frágil) Menor (mais frágil quando temperado)
Dureza (HRC, faixa típica endurecida) ~48 – 56 HRC ~56 – 62 HRC

Explicação: - 440C atinge maior dureza de pico e resistência à tração porque seu maior carbono permite uma martensita mais dura e mais carbonetos de cromo. Isso também reduz a ductilidade e a tenacidade ao impacto em relação ao 440A. - Se a tenacidade e a resistência à fratura catastrófica são prioridades, 440A geralmente terá um desempenho melhor após tratamentos térmicos comparáveis. Se a resistência ao desgaste e a retenção de arestas são críticas, 440C é geralmente preferido.

5. Soldabilidade

A soldagem de aços inoxidáveis martensíticos requer cautela devido à sua propensão a formar martensita dura e frágil e a rachar na zona afetada pelo calor (HAZ). As principais influências incluem teor de carbono, endurecibilidade (Cr e outros elementos de liga) e microligação.

Índices composicionais úteis (interpretar qualitativamente): - Equivalente de Carbono (IIW): $$CE_{IIW} = C + \frac{Mn}{6} + \frac{Cr+Mo+V}{5} + \frac{Ni+Cu}{15}$$ Um maior $CE_{IIW}$ indica maior risco de endurecimento e rachaduras na HAZ; 440C geralmente dará um valor mais alto do que 440A devido ao seu maior carbono.

  • Pcm (parâmetro de soldabilidade): $$P_{cm} = C + \frac{Si}{30} + \frac{Mn+Cu}{20} + \frac{Cr+Mo+V}{10} + \frac{Ni}{40} + \frac{Nb}{50} + \frac{Ti}{30} + \frac{B}{1000}$$ Um maior $P_{cm}$ correlaciona-se com pior soldabilidade e maiores demandas de pré-aquecimento/tratamento térmico pós-solda.

Interpretação qualitativa: - 440A (menor carbono) é mais fácil de soldar do que 440C, mas ainda requer pré-aquecimento, temperaturas de interpassagem controladas e revenimento ou alívio de tensões pós-solda para evitar rachaduras na HAZ. - 440C (alto carbono) é mais difícil de soldar. Em muitos casos, a soldagem é evitada; fixação mecânica ou brasagem pode ser preferida. Se a soldagem for necessária, protocolos rigorosos de pré-aquecimento, parâmetros de solda e tratamento térmico pós-solda são obrigatórios.

6. Corrosão e Proteção de Superfície

  • Ambos, 440A e 440C, são inoxidáveis em virtude do teor de cromo, mas sua resistência à corrosão é apenas moderada em comparação com aços inoxidáveis austeníticos (série 300). Carbonetos de cromo podem se formar e esgotar o cromo localmente (sensibilização) se mantidos na faixa de temperatura crítica, reduzindo a resistência à corrosão localizada.
  • Para ambientes agressivos, proteção de superfície (passivação, revestimentos) ou ligas alternativas devem ser consideradas.

Fórmula PREN (Número Equivalente de Resistência à Fissuração) para aços inoxidáveis quando Mo e N são relevantes: $$\text{PREN} = \text{Cr} + 3.3 \times \text{Mo} + 16 \times \text{N}$$ - Aplicação: PREN é mais significativo para graus duplex e austeníticos com Mo e N apreciáveis. Para 440A/440C, com baixo Mo e N, o PREN é baixo e não é um discriminador útil. - Nota prática: Onde a resistência à corrosão é crítica (por exemplo, marinha, ácida), escolha graus inoxidáveis com maior teor de Mo/N (ou ligas austeníticas/duplex) em vez de confiar em martensíticos.

A proteção de superfície para usos não inoxidáveis (se o material não for suficiente): galvanização, revestimento, revestimentos de conversão e tintas são opções para aços carbono/ligados, mas para 440A/440C a abordagem usual é a passivação (passivação ácida) e acabamentos de superfície controlados para minimizar a iniciação de fendas/fissuras.

7. Fabricação, Usinabilidade e Conformabilidade

  • Usinabilidade: 440A (menor dureza) é geralmente mais usinável na condição recozida do que 440C. O maior teor de carbono e carbonetos de 440C aumentam o desgaste da ferramenta e reduzem as velocidades de corte, a menos que o material seja recozido e ferramentas/revestimentos especiais sejam utilizados.
  • Desbaste e acabamento: 440C responde bem ao desbaste e polimento de precisão — daí sua popularidade para lâminas de faca e componentes de rolamento. Mais abrasivo e mais lento do que 440A em taxas de alimentação equivalentes.
  • Conformabilidade e dobra: Ambos os graus têm conformabilidade a frio limitada em relação aos aços inoxidáveis austeníticos. 440A é um pouco mais tolerante durante a conformação devido à sua menor endurecibilidade; 440C é tipicamente formado apenas quando suavemente recozido e depois tratado termicamente.
  • Tratamento térmico após a conformação é prática comum; a usinagem final é frequentemente realizada após o tratamento térmico e revenimento ou por meio de operações de desbaste.

8. Aplicações Típicas

440A — Usos típicos 440C — Usos típicos
Cutelaria de menor custo, lâminas de faca baratas, ferramentas cirúrgicas onde menos retenção de aresta é aceitável Lâminas de faca de alta qualidade, cutelaria de precisão, lâminas de barbear com maior retenção de aresta
Rolamentos pequenos, componentes de válvula onde resistência moderada à carga/desgaste e corrosão é suficiente Rolamentos de esferas, arruelas de empuxo, assentos de válvula que requerem maior resistência ao desgaste
Molde e eixos onde dureza e tenacidade moderadas são equilibradas Anéis de desgaste, vedações e componentes hidráulicos sujeitos a alto desgaste por deslizamento
Peças de uso geral onde a economia de usinagem é importante Aplicações que exigem alta dureza, resistência à abrasão e acabamento de superfície fino

Racional de seleção: - Escolha 440A para aplicações que priorizam custo, fabricação mais fácil e maior tenacidade onde a demanda de desgaste é moderada. - Escolha 440C onde a retenção de aresta, resistência ao desgaste abrasivo e dureza máxima são atributos decisivos e onde controles de fabricação mais rigorosos (tratamento térmico, desbaste de acabamento) podem ser aplicados.

9. Custo e Disponibilidade

  • Custo relativo: 440A geralmente custa menos do que 440C devido ao menor teor de carbono e processamento um pouco mais fácil. No entanto, os preços de mercado são mais influenciados pelo teor de cromo e forma (barra, fita) do que pelo carbono sozinho; ambos são graus inoxidáveis de commodity e estão amplamente disponíveis.
  • Disponibilidade por forma de produto: Ambos os graus estão prontamente disponíveis em barra, fita, chapa/placa (espessura limitada), fio e formas de tempera de mola. 440C é particularmente comum em barra endurecida e retificada para rolamentos, blanks de faca e componentes de precisão.
  • Prazos de entrega: formas comerciais padrão geralmente têm prazos de entrega curtos; formas especiais (por exemplo, grandes forjados, ciclos de tratamento térmico personalizados) podem adicionar tempo.

10. Resumo e Recomendação

Tabela resumo — avaliação relativa:

Atributo 440A 440C
Soldabilidade Melhor (mas ainda requer cuidado) Pior (alto risco de rachaduras)
Força – Equilíbrio de Tenacidade Força moderada, melhor tenacidade Maior força/dureza, menor tenacidade
Custo Menor / mais econômico Maior (custos de processamento e usinagem)

Escolha 440A se: - Você precisa de um aço inoxidável martensítico com resistência à corrosão razoável, dureza moderada, melhor tenacidade e menor custo de fabricação. - Usinabilidade, facilidade de soldagem (com precauções) ou resistência a amassados/ressiliência sob impacto são mais importantes do que a vida útil máxima de desgaste ou retenção de aresta. - A aplicação é sensível ao custo e o ambiente de desgaste é moderado.

Escolha 440C se: - Dureza máxima, resistência ao desgaste abrasivo e retenção de aresta são atributos prioritários (por exemplo, facas de precisão, rolamentos, superfícies de vedação). - Você pode acomodar controle mais rigoroso do tratamento térmico, revenimento pós-solda/pós-processo e potencialmente custos aumentados de usinagem ou desbaste. - O design exige componentes endurecidos onde a vida útil de desgaste supera a necessidade de alta tenacidade ou facilidade de soldagem.

Nota final: Ambos os graus podem ter um desempenho excelente quando especificados e processados corretamente. Os principais fatores de decisão são o ambiente de serviço (desgaste vs. impacto), restrições de fabricação (soldagem, usinagem) e custo do ciclo de vida. Para componentes críticos, exija testes e consulte metalurgistas para definir ciclos de tratamento térmico e acabamentos de superfície específicos adaptados ao serviço pretendido.

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