Martensita em Placa: Microestrutura, Formação e Impacto nas Propriedades do Aço

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Definição e Conceito Fundamental

A martensita em placas é uma forma microestrutural específica da fase martensítica no aço, caracterizada por sua morfologia fina e semelhante a placas. Ela se forma quando a austenita, uma fase cúbica de face centrada (FCC), passa por um resfriamento rápido (têmpera) abaixo da temperatura de início da martensita (Ms), resultando em uma transformação de cisalhamento sem difusão em uma fase tetragonal de corpo centrado (BCT). Essa microestrutura é distinguida por sua morfologia lamelar e em forma de placas, que influencia significativamente as propriedades mecânicas do aço.

No nível atômico, a martensita em placas resulta de uma transformação de cisalhamento coordenada que reorienta a rede atômica de FCC para BCT sem difusão atômica. A transformação envolve um mecanismo dominante de cisalhamento onde a rede de austenita mãe se distorce ao longo de planos de hábito específicos, criando uma fase altamente tensionada e supersaturada. A microestrutura resultante incorpora uma fase metastável com alta densidade de discordâncias e tensões internas, que são críticas para sua resistência e dureza.

Na metalurgia do aço, entender a martensita em placas é essencial porque impacta diretamente propriedades como dureza, resistência, tenacidade e ductilidade. Sua formação e controle são fundamentais no projeto de processos de tratamento térmico para aços de alto desempenho, incluindo ferramentas, componentes estruturais e ligas resistentes ao desgaste. As características da microestrutura influenciam o comportamento do aço sob carga, resistência à corrosão e vida em fadiga, tornando-se um conceito central na engenharia microestrutural.

Natureza Física e Características

Estrutura Cristalográfica

A martensita em placas adota uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado (BCT), que é uma forma distorcida da rede cúbica de face centrada (FCC) da austenita mãe. A transformação de FCC para BCT envolve uma deformação de cisalhamento ao longo de planos de hábito específicos, tipicamente planos {111} na austenita, resultando em uma distorção da rede caracterizada por uma razão de tetragonalidade (c/a).

Os parâmetros de rede da martensita variam dependendo da composição da liga e das condições de resfriamento, mas geralmente apresentam uma célula unitária tetragonal com constantes de rede aproximadamente a ≈ 2,87 Å e c ≈ 3,00 Å em aços à base de ferro puro. A tetragonalidade (razão c/a) influencia as tensões internas e a dureza da microestrutura.

Cristalograficamente, a transformação martensítica envolve uma relação de orientação específica com a austenita mãe, comumente descrita pelas relações de orientação Kurdjumov–Sachs (K–S) ou Nishiyama–Wassermann (N–W). Essas relações definem como as variantes de martensita BCT estão orientadas em relação à austenita FCC, levando a um padrão característico de distribuição de variantes e tensões internas.

Características Morfológicas

A martensita em placas se manifesta como placas ou lâminas finas e alongadas dentro da microestrutura do aço. Essas placas geralmente medem entre 0,1 a 1 micrômetro de espessura e podem se estender por vários micrômetros de comprimento, formando frequentemente uma morfologia em lâmina ou em forma de placa. As placas estão dispostas em pacotes ou blocos, com cada pacote compreendendo variantes de martensita orientadas de acordo com as relações de orientação cristalográfica.

Sob microscopia óptica, a martensita em placas aparece como características semelhantes a agulhas ou em forma de lâmina com alto contraste devido à sua dureza e tensões internas. A microscopia eletrônica de transmissão (TEM) revela sua estrutura lamelar fina, com as placas frequentemente alinhadas ao longo de planos de hábito específicos, criando uma microestrutura característica que se assemelha a um mosaico de placas finas e paralelas.

A distribuição das placas pode ser uniforme ou agrupada, dependendo da composição do aço e da taxa de resfriamento. Em aços de alto carbono, as placas tendem a ser mais densamente empacotadas e mais finas, enquanto em aços de baixo carbono, podem ser mais grossas e menos uniformemente distribuídas.

Propriedades Físicas

A martensita em placas exibe alta dureza e resistência devido ao seu conteúdo de carbono supersaturado e alta densidade de discordâncias. Os valores típicos de dureza variam de 600 a 700 HV (dureza Vickers), significativamente mais altos do que as microestruturas de ferrita ou perlita.

Sua densidade é ligeiramente inferior à da ferrita devido a tensões internas e distorções da rede, mas permanece próxima da densidade teórica do ferro BCT. A microestrutura é geralmente não magnética ou fracamente magnética, dependendo dos elementos de liga e das tensões residuais.

Termicamente, a martensita em placas possui alta condutividade térmica em relação a outras microestruturas, facilitando a dissipação de calor em aplicações. Sua condutividade elétrica é baixa devido à alta densidade de defeitos e à supersaturação de carbono, que dispersam os elétrons de condução.

Magneticamente, a martensita é tipicamente ferromagnética, com propriedades magnéticas influenciadas pela tetragonalidade e tensões internas. A natureza anisotrópica da microestrutura pode levar a variações direcionais na permeabilidade magnética.

Comparada a outras microestruturas como bainita ou perlita, a martensita em placas é marcadamente mais dura, mais quebradiça e menos dúctil, o que exige controle cuidadoso durante o processamento para equilibrar resistência e tenacidade.

Mecanismos de Formação e Cinética

Base Termodinâmica

A formação da martensita em placas é governada pela estabilidade termodinâmica das fases em temperaturas e composições dadas. A força motriz para a transformação é a diferença de energia livre de Gibbs (ΔG) entre austenita e martensita, que se torna cada vez mais negativa à medida que a temperatura cai abaixo de Ms.

A transformação martensítica é um processo sem difusão e dominante por cisalhamento, ocorrendo rapidamente quando a diferença de energia livre excede um limite crítico. A estabilidade da austenita em altas temperaturas deve-se à sua energia livre mais baixa em relação a outras fases, mas, após resfriamento rápido, a austenita se torna supersaturada e metastável, favorecendo a formação de martensita.

Diagramas de fases, especialmente o diagrama binário Fe–C, ilustram as faixas de temperatura e composição onde a martensita é termodinamicamente favorecida. A temperatura Ms depende dos elementos de liga; por exemplo, o carbono eleva Ms, facilitando a formação de martensita em temperaturas mais altas.

Cinética de Formação

A cinética da formação da martensita envolve processos de nucleação e crescimento que são controlados por cisalhamento. A nucleação ocorre rapidamente em locais favoráveis, como limites de grão, discordâncias ou defeitos microestruturais existentes, com a taxa de nucleação fortemente dependente da temperatura e da composição da liga.

O crescimento ocorre através de uma frente de transformação de cisalhamento que se move pela austenita, com a taxa limitada pela disponibilidade de tensão de cisalhamento e tensões internas. A transformação é essencialmente instantânea uma vez que a nucleação ocorre, frequentemente completando-se em milissegundos durante a têmpera rápida.

O passo limitante da taxa é a própria transformação de cisalhamento, com energias de ativação tipicamente na faixa de 50–100 kJ/mol. A taxa de resfriamento influencia significativamente a extensão e a morfologia da martensita; resfriamento mais rápido resulta em placas mais finas com tensões internas mais altas.

Fatores Influentes

Elementos de liga como carbono, manganês, níquel e cromo influenciam a formação da martensita em placas ao alterar Ms e a cinética da transformação. Um maior teor de carbono estabiliza a martensita, aumentando sua fração volumétrica e refinando a microestrutura.

Parâmetros de processamento como taxa de resfriamento, temperatura de austenitização e microestrutura anterior afetam a morfologia e a distribuição das placas. A têmpera rápida a partir da temperatura de austenitização promove placas finas e homogêneas, enquanto um resfriamento mais lento pode levar a microestruturas mistas com bainita ou perlita.

Microestruturas pré-existentes, como o tamanho dos grãos de austenita anterior, influenciam os locais de nucleação e a morfologia das placas resultantes. Grãos finos tendem a produzir placas martensíticas mais finas, aumentando a resistência e a tenacidade.

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