Dureza da Água: Processo de Resfriamento Rápido para Máxima Dureza do Aço

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Definição e Conceito Básico

A tempera em água refere-se a um processo de tratamento térmico na fabricação de aço, onde o aço aquecido é resfriado rapidamente (tempera) em água para aumentar a dureza e a resistência. Este processo transforma a microestrutura do aço, convertendo austenita em martensita, resultando em um aumento significativo na dureza e resistência à custa de alguma ductilidade.

A tempera em água representa um dos métodos de têmpera mais antigos e fundamentais na prática metalúrgica. A taxa de resfriamento rápido alcançada através da têmpera em água cria uma solução sólida supersaturada que aprisiona átomos de carbono dentro de uma estrutura cristalina distorcida, impedindo a formação de fases de equilíbrio.

No contexto mais amplo da metalurgia, a tempera em água pertence à família de processos de têmpera que incluem têmpera em óleo, têmpera em polímero e resfriamento ao ar. Geralmente, produz o efeito de têmpera mais severo, gerando a máxima dureza, mas também introduz o maior risco de trincas e distorções devido ao choque térmico.

Natureza Física e Fundamento Teórico

Mecanismo Físico

Em nível microestrutural, a tempera em água funciona suprimindo a transformação controlada por difusão de austenita em perlita e bainita. O resfriamento rápido aprisiona átomos de carbono em posições intersticiais dentro da rede de ferro, forçando a estrutura cúbica de face centrada (FCC) da austenita a se transformar em uma estrutura tetragonal de corpo centrado (BCT) martensítica altamente tensionada.

Essa transformação martensítica ocorre através de um mecanismo do tipo cisalhamento sem difusão. Os átomos de carbono ficam aprisionados em locais intersticiais octaédricos, distorcendo a rede cristalina e criando tensões internas significativas. Essas distorções impedem o movimento de deslocações, que é o principal mecanismo para o aumento dramático da dureza.

A transformação começa na temperatura de início da martensita (Ms) e continua até que a temperatura de término da martensita (Mf) seja alcançada ou até que o aço seja reaquecido. A expansão de volume associada a essa transformação cria tensões internas que podem levar a trincas se não forem controladas adequadamente.

Modelos Teóricos

A equação de Koistinen-Marburger representa o principal modelo teórico que descreve a transformação martensítica durante a tempera em água:

$V_m = 1 - \exp$$-\alpha(M_s - T)$$$

Onde $V_m$ é a fração de volume de martensita, $M_s$ é a temperatura de início da martensita, $T$ é a temperatura atual, e $\alpha$ é uma constante específica do material.

Historicamente, a compreensão da tempera em água evoluiu do conhecimento empírico artesanal para a compreensão científica. Ferreiros antigos reconheceram o efeito de endurecimento da têmpera de aço quente em água séculos antes que os mecanismos subjacentes fossem compreendidos. A compreensão científica se desenvolveu significativamente no início do século 20 com o trabalho de Bain e Davenport, que identificaram pela primeira vez a martensita usando difração de raios X.

Abordagens modernas incorporam modelos computacionais que preveem taxas de resfriamento, transformações de fase e distribuições de tensões resultantes. Diagramas de Tempo-Temperatura-Transformação (TTT) e Transformação de Resfriamento Contínuo (CCT) fornecem representações gráficas das transformações de fase durante o resfriamento.

Base da Ciência dos Materiais

A eficácia da tempera em água relaciona-se diretamente à transformação da estrutura cristalina de austenita em martensita. A estrutura BCT da martensita contém distorções significativas da rede que impedem o movimento de deslocações através das fronteiras de grão, aumentando dramaticamente a dureza.

As fronteiras de grão desempenham um papel crucial no processo de tempera em água. Tamanhos de grão de austenita mais finos geralmente resultam em maior dureza após a têmpera devido à área aumentada da fronteira de grão que impede o movimento de deslocações. No entanto, eles também fornecem mais locais de nucleação para a formação de martensita, o que pode reduzir tensões internas.

A tempera em água exemplifica o princípio fundamental da ciência dos materiais de que o processamento determina a estrutura, e a estrutura determina as propriedades. Ao controlar a taxa de resfriamento através da têmpera em água, os metalurgistas manipulam a microestrutura para alcançar as propriedades mecânicas desejadas.

Expressão Matemática e Métodos de Cálculo

Fórmula de Definição Básica

A taxa de resfriamento durante a tempera em água pode ser expressa como:

$\frac{dT}{dt} = h \cdot \frac{A}{V \cdot \rho \cdot c_p} \cdot (T - T_0)$

Onde:
- $\frac{dT}{dt}$ é a taxa de resfriamento (°C/s)
- $h$ é o coeficiente de transferência de calor (W/m²·K)
- $A$ é a área de superfície do componente (m²)
- $V$ é o volume do componente (m³)
- $\rho$ é a densidade do aço (kg/m³)
- $c_p$ é a capacidade calorífica específica (J/kg·K)
- $T$ é a temperatura atual do aço (°C)
- $T_0$ é a temperatura do meio de têmpera (°C)

Fórmulas de Cálculo Relacionadas

O teste de têmpera Jominy relaciona a dureza à taxa de resfriamento usando:

$HRC = HRC_{max} - K \cdot \log(d)$

Onde:
- $HRC$ é a dureza Rockwell C a uma distância d da extremidade temperada
- $HRC_{max}$ é a dureza máxima alcançada
- $K$ é uma constante específica do material
- $d$ é a distância da extremidade temperada (mm)

O fator de severidade de têmpera de Grossmann (H) quantifica a intensidade da têmpera:

$H = \frac{h}{2k}$

Onde:
- $h$ é o coeficiente de transferência de calor (W/m²·K)
- $k$ é a condutividade térmica do aço (W/m·K)

Condições e Limitações Aplicáveis

Essas fórmulas se aplicam principalmente a geometrias simples e assumem distribuição de temperatura uniforme antes da têmpera. Geometrias complexas requerem análise de elementos finitos para previsões precisas.

Os modelos assumem temperatura e agitação consistentes do meio de têmpera durante todo o processo. Na prática, a formação de vapor na superfície do aço cria um coeficiente de transferência de calor variável que muda durante a têmpera.

Esses cálculos geralmente negligenciam o calor latente liberado durante as transformações de fase, o que pode afetar significativamente as taxas de resfriamento, especialmente em seções maiores.

Métodos de Medição e Caracterização

Especificações de Teste Padrão

  • ASTM A255: Métodos de Teste Padrão para Determinar a Endurecibilidade do Aço
  • ISO 642: Aço — Teste de endurecibilidade por têmpera em extremidade (teste Jominy)
  • SAE J406: Métodos de Determinação da Endurecibilidade dos Aços
  • ASTM E18: Métodos de Teste Padrão para Dureza Rockwell de Materiais Metálicos

ASTM A255 e ISO 642 padronizam o teste de têmpera em extremidade Jominy, que avalia a endurecibilidade do aço medindo a dureza ao longo de uma barra temperada em uma extremidade. ASTM E18 fornece métodos padrão para teste de dureza após a têmpera.

Equipamentos e Princípios de Teste

Testadores de dureza (Rockwell, Vickers, Brinell) são os principais equipamentos usados para avaliar a eficácia da tempera em água. Esses dispositivos medem a resistência do material à indentação usando indentadores e cargas padronizadas.

Microscópios metalográficos permitem a análise da microestrutura após a tempera em água. A presença e morfologia da martensita

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